segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Universidades e Empresas

Jornal O Globo
Editorial - 8.1.2011

O Brasil criou sua base industrial a partir de um modelo de substituição de importações, que envolveu reservas de mercado, barreiras tarifárias e subsídios. Tais mecanismos são geralmente aceitos como regras do jogo quando se trata de estimular indústrias nascentes.

Embora ainda existam espaços para substituição de importações, a indústria brasileira se motiva por uma demanda interna que se expande rapidamente e também pelo desafio da exportação. Diferentemente do passado, a indústria somente atingirá seus objetivos se for competitiva e inovadora.
 
Não são poucos os segmentos em que o país se destaca. A agroindústria, por exemplo, viabilizou uma considerável oferta de biocombustíveis, o que por sua vez abriu a oportunidade para as montadoras de veículos fabricarem automóveis com motores flex. O Brasil em breve terá a sua frota formada principalmente de carros flex, em um caso único no mundo.
 
No campo da energia certamente se pode esperar mais inovações da indústria brasileira, pois os investimentos em curso têm atraído para o país vários centros de pesquisa. Além disso, fundos setoriais financiam a atividade de pesquisa dessas áreas. Mas, apesar de o Brasil já contar com uma satisfatória estrutura de apoio à pesquisa e à inovação (a revista inglesa "The Economist" acaba de chamar a atenção, na última edição impressa, para o fato de o Brasil formar 10 mil doutores por ano, dez vezes mais do que duas décadas atrás, e responder por 2,7% dos artigos científicos publicados, índice que em 2002 não passava de 1,7%), ainda não há um esforço generalizado das empresas nessa mesma direção. Basta comparar o registro de patentes do Brasil - 103 no ano passado - com as milhares da Coreia do Sul. O país perde de empresas como a Toyota.
 
Universidades e empresas não conseguiram superar suas desconfianças mútuas. E esse distanciamento é ruim para os dois lados. No entanto, como um não pode prescindir do outro, é bem possível que a necessidade acabe criando as condições para uma maior integração. Além do Ministério da Ciência e Tecnologia, específico para essa atividade, vários ministérios têm hoje estruturas voltadas para o incentivo à pesquisa tecnológica e à inovação. E, nas redes de educação, ganha força o ensino profissionalizante e o de vocação tecnológica, o que ajudará a dar mais capilaridade aos diversos programas de fomento à pesquisa e à inovação.
 
A geração de energia por fontes limpas, os compromissos voluntários de redução da emissão de gases poluentes, a sustentabilidade do desenvolvimento são questões cada vez mais presentes na agenda mundial e para as quais as políticas brasileiras relacionadas à ciência e à tecnologia terão que estar mais atentas. Os setores produtivos, por seu turno, precisarão inovar seguindo esse caminho, caso contrário perderão mercados, pois o consumo consciente se tornará inevitável.
 
Não por acaso a pauta que envolve a pesquisa, a inovação e os desafios tecnológicos passa a ter uma relevância no debate econômico tal como o câmbio, a taxa de juros, inflação etc.

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